quarta-feira, 7 de março de 2012

Lesbianas Feministas

Neste 08 de Março de 2012, escrevi este poema para todas as mulheres, e em especial às minhas companheiras lésbicas que não dobram a espinha e "matam muitos leões por dia" para viver com dignidade e respeito.
Salve Safho de Lesbos, que a 640.A.C já fazia poemas declarando seu amor entre iguais.
Viva a paz, viva a liberdade de expressão, viva o respeito às diferenças!!!





LESBIANAS FEMINISTAS

Identidade de Mulheres Revolucionárias
Que lutam contra o patriarcado
Corajosas, guerreiras
Que não se conformam, não desistem
Não se rendem! Preciosas!
Lesbianas Feministas
De todos os lugares
De muitas diversidades
De muitas formas de amar
Amor pela liberdade
Amor pela eqüidade
Amor por outras mulheres
Amor por poder amar!
Lesbianas Feministas
Basta de opressão!
Basta de racismo!
Basta de discriminação!
Viva a autonomia!
Viva a rebeldia!
Viva a liberdade!

domingo, 4 de março de 2012

As Mulheres das Ilhas de Porto Alegre

Quero dedicar este texto, As Mulheres das Ilhas de Porto Alegre, que com coragem, sabedoria e resistência conseguem criar seus filhos(as), sustentar suas famílias, matar dez leões por dia para manter a espinha erguida e seguir em frente lutando para ter uma vida digna.
Salve Vânias, Jussaras, Nazarés, Curucas, Pedros, Laurindos, Roses, Marias, Josés, Joanas e todas(os) os(as) moradores(as) das Ilhas!

AS MULHERES DAS ILHAS DE PORTO ALEGRE

Conhecer mais de perto a realidade das mulheres e homens das Ilhas de Porto Alegre me causou muita alegria e também indignação.

Sempre me reporto a falta de estrutura e saneamento básico, da Vila Castelo onde trabalho todos os dias na Restinga. A situação é lastimável, precária, e causa indignação, pois acredito que todas as pessoas precisam viver com dignidade. Mas a realidade das Ilhas é impactante, pois além de falta de estrutura, a precariedade e falta das políticas públicas que são de responsabilidade do Prefeito de Porto Alegre, é assustadora.

Conversamos com muitos(as) moradores(as) e as falas foram uníssonas:

- “Só tem água na madrugada”...
- “Não queremos gatos na luz. Meu filho toma insulina e não tenho onde guardar, corremos riscos de incêndio diariamente”...
- “Onde estão os direitos humanos, nós somos humanos”...
- ”No inverno é muito mais triste”...
- “Quem mora no fundão não tem acesso a nada”...
- “ Nossas crianças não tem creche. As vagas são poucas, e aí como se faz para trabalhar”...
- “ Aqui não entra nada, nem taxi, nem ônibus, nem nada”...
- “ Somos discriminados(as) porque moramos nas Ilhas”...
- “ Somos gente de bem”...

As Ilhas, a Vila Castelo e tantos outros lugares da nossa grande cidade, nunca aparecem nas propagandas na televisão e nem apareceram na novela: “A vida da gente”.
Observando e fazendo a crítica das prioridades desta gestão municipal, com certeza, nossa cidade não é para todas as pessoas que nela vivem.
Desejamos que todas as pessoas tenham acesso as politicas públicas, pois como sabiamente uma moradora falou: “Queremos uma vida civilizada, digna, chega de sofrer”.

Algumas constatações:

@ Nas Ilhas existe uma Escola de Educação Infantil pública e uma privada;
@ 4 escolas estaduais, sendo que na Ilha do Pavão não tem escola;
@ Programa de saúde da família: Ilha das Flores e Marinheiros e outras comunidades menores, atendem 4.049 pessoas, já na Ilha da Pintada e Mauá são 3.287 cadastrados(as), e não funciona o dia todo, nem nos finais de semana;
@ Na Ilha do Pavão existe uma unidade básica de saúde mantida pelo Hospital Ernesto Dornelles, e este serviço foi elogiado pela população;
@ Existe uma unidade da FASC na Ilha dos Marinheiros;
@ A farmácia distrital mais próxima é fora das Ilhas, no bairro São Geraldo;



Algumas conclusões:

Deixei para tratar da questão do transporte coletivo nas conclusões, pois tendo em vista o quadro de constatações acima apresentado, concluo que TODAS as pessoas das Ilhas de Porto Alegre são heróis e heroínas de “guerra”.
Com certeza os “olhos da gestão pública municipal estão distantes de reconhecer que o povo das Ilhas estão abaixo da linha da pobreza e precisam com URGÊNCIA de políticas públicas eficientes que atendam as demandas dos(as) moradores(as) em todos os aspectos das suas vidas.

A Ilha da Pintada é a única que possui transporte coletivo de referência e funciona só nos dias úteis.

Não existem coletivos públicos para circulação da população no interior nas demais Ilhas. O acesso aos transportes coletivos existentes ocorrem nos terminais que se localizam na BR/116.

Tendo acesso a estes dados em relação ao transporte, não posso deixar de perguntar a administração pública municipal de Porto Alegre:

1- Como viver nas Ilhas de Porto Alegre com moradias desumanas?
2- Como viver nas Ilhas de Porto Alegre sem acesso e sem escola para todos(as)?
3- Como viver nas Ilhas de Porto Alegre sem creche para todos(as)?
4- Como viver nas Ilhas de Porto Alegre com fios de alta tensão prestes a incendiar a qualquer momento?
5- Como viver nas Ilhas de Porto Alegre sem transporte para todos(as) e os equipamentos da saúde com horários reduzidos, sem funcionar nos finais de semana? Isto é o próprio caos da administração pública, pois a população das Ilhas não “podem” ficar doentes nos finais de semana?
6- Como viver nas Ilhas de Porto Alegre com 1 equipamento da Assistência Social, num dos lugares de maior vulnerabilidade social da cidade?
7- Como viver nas Ilhas de Porto Alegre sem uma farmácia distrital, já que o transporte é muito precário, fica longe da casa da maioria das pessoas, e ainda por cima não funciona com regularidade.

Tenho estas perguntas e muitas mais para fazer ao Prefeito de Porto Alegre, e seu jargão de campanha faz jus a sua administração.

“ Eu curto, Eu cuido”. Significa exatamente a transferência da responsabilidade de administrar a cidade de Porto Alegre para o povo. O prefeito conclama as moradoras(es) a cuidar da capital gaúcha, e em contrapartida as populações das periferias sofrem todas estas privações citadas acima e tantas outras que não foram colocadas pelos(as) moradores(as) das Ilhas.

Finalizo afirmando que precisamos ficar DE OLHO nas promessas de campanha, nas propagandas eleitoreiras, na realidade da nossa cidade e em tudo que já foi prometido e não foi realizado.

“As Mulheres não querem mais esperar! O 08 de Março de 2012 deve ter uma cara nova. Esse é um ano eleitoral e precisamos fazer com as conquistas das gerações anteriores se transformem em uma nova geração de mulheres ocupando os espaços de poder também nas cidades.
Temos a chance de eleger mulheres comprometidas com a Porto Alegre dos nossos sonhos: inovadora, moderna, a serviço das pessoas que vivem na cidade.
Com sensibilidade e atitude as Mulheres fazem o novo. Elegemos a Presidenta, agora queremos a Prefeita”!

Referências:

Site do Hospital Ernesto Dornelles
Balanço Social 2010. Hospital Moinhos de Vento. SMS/PMPA, 2012.
PMPA, 2012, SEC/RS, 2012
Texto da UBM sobre o 08 de Março: Dia Internacional da Mulher

sexta-feira, 2 de março de 2012

Mulheres das Cidades

Dedico este texto e este poema para todas as mulheres de Porto Alegre, do RS, do Brasil e do Mundo.
Mulheres das Cidades!
Às vezes grito, empurro a porta com força, choro baixinho e bem alto, mas não me conformo, continuo...
Tantas perguntas que não querem calar!
Meu peito, meus pensamentos, meus sonhos, se misturam pelo ar.
Racismo mata e machuca!
Machismo destrói e inculca que somos mercadorias, objetos, abjetas, reféns da hipocrisia, da sociedade e do capital.
A opressão de classe continua implacável, injusta, abominável marca que divide os “bons” e os “maus”.
Qual a medida da dignidade?
Porque uns tem palácios e muitos(as) não tem pão?
Binarismo selvagem que tira a dignidade, o chão, mata os sonhos e as vontades, capitalismo cruel.
Racismo disfarçado...
Lesbofobia velada, que encaixota, suspende, prende mentes e corações dentro de armários, dentro de prisões.
Tantas perguntas, tantas mentiras, tantas misérias, tantas histórias mau contadas.
Os navios negreiros não transportaram escravas, e sim mulheres cheias de ciência, cultura, criatividade que foram arrancadas, roubadas do seu continente,e escravizadas.
O ministério da igualdade de oportunidades adverte:
Os direitos sexuais e reprodutivos fazem bem à saúde.
“Respeitem meus cabelos, brancos(as)”.
O armário traz sofrimento, mas quem está lá também precisa ser respeitado(a).
Quem é racista: Assuma! Reveja seus conceitos e ações.
Machistas de plantão: Sempre é tempo de se recuperar desta doença terminal.

Por fim, ou pra começar:

Vamos jogar os preconceitos fora!
Vamos unir nossas bandeiras!
Vamos ampliar nossas fronteiras!
Quem sabe, cantamos a mesma música?
Quem sabe, damos um grito de liberdade?
Quem sabe a luta pelo socialismo se torna a nossa unidade!
Vamos ocupar as ruas, os “três poderes” e tudo mais!
È nossa hora, é nossa vez, o nosso século!
Bote a boca no trombone!
Cidades das Mulheres é o grito do povo!
Mulherada vamos construir o novo!

Dilmas, Marias da Penha, Eloás, Manuelas, Jandiras, Ângelas, Juremas, Suelys, Adelaides, Joanas, Eleonoras, Patricias, Fridas, Safhos, Felipas, Simones...





Cidades das Mulheres!
O fato de estarmos aqui, é triunfo de muitas mulheres que nos antecederam: as visionárias, as bruxas, as sufragistas, as feministas, e sem dúvida, as poetas. Porque esta realidade foi utopia, como é utopia o que falta conquistar”. (Maria Guerra – México).“


Engana-se quem ainda pensa que nós, Feministas brasileiras, nos tornamos cidadãs fazendo as nossas lutas, especificamente, por conquistas de direitos civis, sociais e políticos somente para as mulheres. Nossa luta é pela transformação social.

A luta se dá pela conquista da cidadania. Passou e passa pela nossa participação nos movimentos democráticos pela independência do país, contra o crime brutal da escravatura, pela República, contra o Estado Novo, pela paz, contra a ditadura militar, pela anistia, contra a carestia, pelo movimento “diretas já”, contra o racismo, pela constituinte, contra a corrupção, pelo “impeachment” de Collor, contra a privatização do Estado, pela reforma agrária, pela autonomia dos movimentos sociais, pela descriminalização e legalização do aborto,pelo fim do racismo, pelo fim da lesbofobia, homofobia e transfobia, pelo fim dos fundamentalismos, da fome, dos baixos salários e exploração das trabalhadoras e trabalhadores, pelo fim de toda e qualquer forma de opressão de classe, gênero, raça/etnia, orientação sexual, geracional e outras.

Já tivemos inúmeras conquistas, mas ainda temos muito que conquistar!

Um dos nossos mais importantes desafios, é alcançarmos uma representação cada vez maior de mulheres nos poderes da República, que seja coerente tanto com a nossa participação política, econômica e social no cotidiano da vida nacional, estadual e municipal, como com a nossa condição de extrato majoritário da população e do eleitorado brasileiro.

Participamos ativamente dos movimentos transformadores da nossa sociedade, mas nas esferas de poder ainda é muito desigual a ocupação de espaços entre mulheres e homens.


“Porque Lugar de Mulher é na Política e em Todos os Lugares”!

Em seu pronunciamento histórico na ONU, no dia 21 de Setembro de 2011, quando pela primeira vez uma mulher abriu os debates na Assembléia das Nações Unidas, a Presidenta Dilma Roussef afirmou: “Divido esta emoção com mais da metade dos seres humanos deste planeta que, como eu, nasceram mulher e que, com tenacidade, estão ocupando o lugar que merecem no mundo. Tenho certeza, senhoras e senhores, de que este será o século das Mulheres”.

A conquista da autonomia econômica e social é fundamental para alcançarmos a igualdade entre os sexos, para além de significar a condição de ter seus próprios meios de sustento, a autonomia econômica e social é também essencial para que as mulheres possam decidir livremente sobre seus próprios corpos, seus destinos, seus amores em todas as dimensões das suas vidas.

Segundo dados do IBGE em 2009:

Somos a maioria da população brasileira, representando 51,3% da população de um total de cerca de 192 milhões de pessoas, sendo que 49,9% declaram-se negras.

A realidade precisa ser encarada, analisada e modificada!

Trabalhos precários, chamados de ocupação precária:
@ 41,1% são mulheres e 25% são homens;
@ 48,4% são mulheres negras e 34,3% são mulheres brancas;

Rendimento médio por sexo:
@ R$ 1,154,61 para homens;
@ R$ 759,47 para mulheres;

Rendimento médio por sexo e raça/cor:
@ R$ 1.491,04 para homens brancos;
@ R$ 833,53 para homens negros;
@ R$ 956,95 para mulheres brancas
@ R$ 544,45 para mulheres negras



Distribuição de pobres por sexo e raça/cor:
@ 33% homens negros;
@ 13,3% homens não-negros;
@33,7% mulheres negras;
@ 20% mulheres não-negras

Distribuição de indigentes por sexo e raça/cor: O IBGE considera indigente ou extremamente pobre, pessoas com renda familiar per capta abaixo de ¼ do salário mínimo.
@ 26% homens negros
@ 14,4% não-negros
@ 35,7% mulheres negras
@ 23% mulheres não-negras

Tanto a menor presença no mercado de trabalho quanto a ocupação de postos precários tornam as mulheres mais suscetíveis aos riscos da pobreza e da indigência, especialmente se considerarmos o fator racial. Além disso, as mulheres e os homens não estão igualmente representados em todas as profissões. Há uma segregação ocupacional, acarretando importante diferença de renda.

As politicas de trabalho, emprego e renda devem atender a todas as pessoas, mas têm impactos específicos na realidade das mulheres(valorização do salário mínimo, geração de postos formais de emprego, redução da jornada de trabalho sem redução salarial. Precisamos de políticas que atendam as necessidades específicas de todas as mulheres, na busca de superarmos as desigualdades de gênero da nossa sociedade.

Em relação a violência contra as mulheres, que expressa a crueldade das desigualdades de gênero, atinge o direito à vida, à saúde e à integridade física das mulheres. Ela engloba tudo que cause “morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público quanto no privado”. ( Convenção de Belém do Pará)

A sociedade brasileira é marcada pelo racismo, sexismo, lesbofobia e várias formas de preconceitos e discriminações. Assim, as mulheres negras, lésbicas, indígenas e de outras etnias, que vivem em situação de vulnerabilidade social, deficientes, jovens, idosas, que não seguem o padrão de beleza estabelecido como hegemônico: rica, alta, magra, branca, loira e olhos azuis, encontram-se expostas a diferentes formas de violências e mecanismos de exclusão de bens e serviços, dentro e fora das políticas públicas. Esta exclusão reduz as oportunidades de acesso a educação, trabalho, moradia, saúde, habitação, cultura, esporte, lazer, assistência social e todas as outras políticas públicas que devem ser universais e estarem disponíveis para toda a população.

Nos últimos anos, a magnitude dessa violência ganhou visibilidade ainda maior a partir da promulgação da Lei 11.340/2006, a Lei Maria da Penha, com o aumento de registros policiais de ocorrências, bem como dados reportados ao sistema de saúde. Os dados de 2008 mostram o perfil predominante das agressões praticadas contra mulheres: em 75,5% dos casos foram cometidas por um indivíduo do sexo masculino e que mantinha relação próxima com a vítima na condição de cônjuge (18,7%).

Destaca-se um índice expressivo de violência praticada contra jovens e meninas, pois 30,8% dos casos foram encaminhados ao Conselho Tutelar e 25,6% às DEAMs. A violência praticada contra mulheres é de repetição ou crônica e atinge cerca de 40% das vítimas notificadas com prevalência da violência sexual( Dados do Viva: vigilância de violências e acidentes, 2008 e 2009.Ministério da Saúde, Secretaria de vigilância em saúde, e departamento de análise de situação de saúde).

Precisamos continuar cobrando do poder público a implementação da Lei Maria da Penha, porque além de criminalizar a violência doméstica e familiar contra as mulheres, a lei prevê mecanismos para prevenir e enfrentar a violência, como juizados de violência doméstica e familiar contra as mulheres, medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência, além da integração das ações do poder judiciário e das defensorias públicas com as áreas de segurança pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação.

O número de homicídios contra as mulheres no Brasil entre 1998 e 2008 foi de 42 mil mulheres, ritmo que acompanhou o crescimento da população feminina. Cerca de 40% destas mortes ocorreram na residência da vítima.


Vivemos um momento político especial para alçarmos vôos mais altos e buscarmos a representação das mulheres nos espaços de decisão. Ainda estamos pouco presentes nos espaços formais de poder e decisão, estamos crescendo em participação nos movimentos sociais populares, associações de bairros, movimentos negros, trabalhadoras rurais, LGBT e outros, destacando-se a atuação dos movimentos de mulheres e feministas.

Precisamos incidir sobre as formas que mulheres e homens participam da vida social e política do país, e para tanto precisamos ousar em 2012 e aumentar as cadeiras de mulheres nas Prefeituras e nas câmaras de vereadoras(es) deste Brasil do Iapoque ao Chuí.

Trago alguns dados para instigar nossa ousadia e participação nas eleições 2012.

Segundo dados do TSE :

@ 22% de mulheres candidatas a vereadoras em 2008;
@ Em 2008: 6.511 vereadoras eleitas num total de 51.974 vereadores eleitos no país, perfazendo 13%;
@ Em 2010: 22% de mulheres foram candidatas a deputadas estaduais e distritais e 20% candidatas a deputadas federais;
@ Em 2010 foram eleitas 44 mulheres entre 513 representantes da Câmara Federal, isto é, 8,8%. Atualmente são 49 deputadas em exercício;
@ Mulheres eleitas deputadas estaduais e distritais em 2010: 13%;
@ Prefeitas eleitas em 2008: 505 prefeitas num total de 5.565 prefeituras, perfazendo 9,1%;
@ Senado: São dez senadoras em exercício, de um total de 81 cadeiras, perfazendo 12,3%;
@ Governadoras em 2010: 7,4%, isto é, apenas 2 num total de 27 Estados;
@ Ministras em 2011: 26%, ou seja, 10 ministras em 38 ministérios;

Acredito que juntas podemos TUDO! Fomos capazes de eleger a nossa Presidenta e agora podemos construir a grande possibilidade de transformar as cidades do Brasil em “ CIDADES DAS MULHERES”.

Venha botar o bloco na rua!
“Porque Lugar de Mulher é na Política e em Todos os Lugares!


REFERÊNCIAS:

SWAIN, Tânia Navarro, MUNIZ, Diva do Couto G. Mulheres em ação: práticas discursivas, práticas políticas. Florianópolis: ed. Mulheres, 2005.

VENTURA, Miriam (org.). Direitos sexuais e direitos reprodutivos na perspectiva dos direitos humanos: síntese para gestores, legisladores e operadores do direito. Rio de Janeiro: Advocaci, 2003.

LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1997.

POCAHI, Fernando. Um mundo de injúrias e outras violações: reflexões sobre a violência heterosexista e homofóbica a partir da experiência do Centro de Referência em Direitos Humanos. Rompendo o silêncio. Nuances, 2007.

Caderno de Resoluções do 8º Congresso Nacional da UBM. Junho/2011.

CONSELHO MUNICIPAL DOS DIREITOS DA MULHER. Cartilha políticas públicas para as mulheres. Porto Alegre, Coordenação Política e Governança Local, Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 2007.

CONTI, Silvana B. Educação e lesbianidades: educando para a diversidade. In: PASINI, Elisiane (org.). Educando para a diversidade. Porto Alegre: Nuances, 2007.

Texto de orientação para as Conferências Estaduais e do Distrito Federal, sobre a 3ª Conferência Nacional de politicas para as Mulheres. Dezembro/2011.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Porto Alegre! Cidade das Mulheres

Porto Alegre:
Cidade das Mulheres!
“O fato de estarmos aqui, é triunfo de muitas mulheres que nos antecederam: as visionárias, as bruxas, as sufragistas, as feministas, e sem dúvida, as poetas. Porque esta realidade foi utopia, como é utopia o que falta conquistar”. (Maria Guerra – México).


Engana-se quem ainda pensa que nós, Feministas brasileiras, nos tornamos cidadãs fazendo as nossas lutas, especificamente, por conquistas de direitos civis, sociais e políticos somente para as mulheres. Nossa luta é pela transformação social.

A luta se dá pela conquista da cidadania. Passou e passa pela nossa participação nos movimentos democráticos pela independência do país, contra o crime brutal da escravatura, pela República, contra o Estado Novo, pela paz, contra a ditadura militar, pela anistia, contra a carestia, pelo movimento “diretas já”, contra o racismo, pela constituinte, contra a corrupção, pelo “impeachment” de Collor, contra a privatização do Estado, pela reforma agrária, pela autonomia dos movimentos sociais, pela descriminalização e legalização do aborto,pelo fim do racismo, pelo fim da lesbofobia, homofobia e transfobia, pelo fim dos fundamentalismos, da fome, dos baixos salários e exploração das trabalhadoras e trabalhadores, pelo fim de toda e qualquer forma de opressão de classe, gênero, raça/etnia, orientação sexual, geracional e outras.

Já tivemos inúmeras conquistas, mas ainda temos muito que conquistar!

Um dos nossos mais importantes desafios, é alcançarmos uma representação cada vez maior de mulheres nos poderes da República, que seja coerente tanto com a nossa participação política, econômica e social no cotidiano da vida nacional, estadual e municipal, como com a nossa condição de extrato majoritário da população e do eleitorado brasileiro.

Participamos ativamente dos movimentos transformadores da nossa sociedade, mas nas esferas de poder ainda é muito desigual a ocupação de espaços entre mulheres e homens.

A nossa presença é imprescindível para darmos prosseguimento à democracia no Brasil, no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, e devemos estar atuantes em diversas esferas: partidos políticos, sindicatos, conselhos de direitos, associações, empresas, organizações da sociedade, nas gestões públicas e nos poderes legislativo, executivo e judiciário.

“Porque Lugar de Mulher é na Política e em Todos os Lugares”!

Em seu pronunciamento histórico na ONU, no dia 21 de Setembro de 2011, quando pela primeira vez uma mulher abriu os debates na Assembléia das Nações Unidas, a Presidenta Dilma Roussef afirmou: “Divido esta emoção com mais da metade dos seres humanos deste planeta que, como eu, nasceram mulher e que, com tenacidade, estão ocupando o lugar que merecem no mundo. Tenho certeza, senhoras e senhores, de que este será o século das Mulheres”.

A conquista da autonomia econômica e social é fundamental para alcançarmos a igualdade entre os sexos, para além de significar a condição de ter seus próprios meios de sustento, a autonomia econômica e social é também essencial para que as mulheres possam decidir livremente sobre seus próprios corpos, seus destinos, seus amores em todas as dimensões das suas vidas.

Segundo dados do IBGE em 2009:

Somos a maioria da população brasileira, representando 51,3% da população de um total de cerca de 192 milhões de pessoas, sendo que 49,9% declaram-se negras.

A realidade precisa ser encarada, analisada e modificada!

Trabalhos precários, chamados de ocupação precária:
@ 41,1% são mulheres e 25% são homens;
@ 48,4% são mulheres negras e 34,3% são mulheres brancas;

Rendimento médio por sexo:
@ R$ 1,154,61 para homens;
@ R$ 759,47 para mulheres;

Rendimento médio por sexo e raça/cor:
@ R$ 1.491,04 para homens brancos;
@ R$ 833,53 para homens negros;
@ R$ 956,95 para mulheres brancas
@ R$ 544,45 para mulheres negras



Distribuição de pobres por sexo e raça/cor:
@ 33% homens negros;
@ 13,3% homens não-negros;
@33,7% mulheres negras;
@ 20% mulheres não-negras

Distribuição de indigentes por sexo e raça/cor: O IBGE considera indigente ou extremamente pobre, pessoas com renda familiar per capta abaixo de ¼ do salário mínimo.
@ 26% homens negros
@ 14,4% não-negros
@ 35,7% mulheres negras
@ 23% mulheres não-negras

Tanto a menor presença no mercado de trabalho quanto a ocupação de postos precários tornam as mulheres mais suscetíveis aos riscos da pobreza e da indigência, especialmente se considerarmos o fator racial. Além disso, as mulheres e os homens não estão igualmente representados em todas as profissões. Há uma segregação ocupacional, acarretando importante diferença de renda.

As politicas de trabalho, emprego e renda devem atender a todas as pessoas, mas têm impactos específicos na realidade das mulheres(valorização do salário mínimo, geração de postos formais de emprego, redução da jornada de trabalho sem redução salarial. Precisamos de políticas que atendam as necessidades específicas de todas as mulheres, na busca de superarmos as desigualdades de gênero da nossa sociedade.

Em relação a violência contra as mulheres, que expressa a crueldade das desigualdades de gênero, atinge o direito à vida, à saúde e à integridade física das mulheres. Ela engloba tudo que cause “morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público quanto no privado”. ( Convenção de Belém do Pará)

A sociedade brasileira é marcada pelo racismo, sexismo, lesbofobia e várias formas de preconceitos e discriminações. Assim, as mulheres negras, lésbicas, indígenas e de outras etnias, que vivem em situação de vulnerabilidade social, deficientes, jovens, idosas, que não seguem o padrão de beleza estabelecido como hegemônico: rica, alta, magra, branca, loira e olhos azuis, encontram-se expostas a diferentes formas de violências e mecanismos de exclusão de bens e serviços, dentro e fora das políticas públicas. Esta exclusão reduz as oportunidades de acesso a educação, trabalho, moradia, saúde, habitação, cultura, esporte, lazer, assistência social e todas as outras políticas públicas que devem ser universais e estarem disponíveis para toda a população.

Nos últimos anos, a magnitude dessa violência ganhou visibilidade ainda maior a partir da promulgação da Lei 11.340/2006, a Lei Maria da Penha, com o aumento de registros policiais de ocorrências, bem como dados reportados ao sistema de saúde. Os dados de 2008 mostram o perfil predominante das agressões praticadas contra mulheres: em 75,5% dos casos foram cometidas por um indivíduo do sexo masculino e que mantinha relação próxima com a vítima na condição de cônjuge (18,7%).

Destaca-se um índice expressivo de violência praticada contra jovens e meninas, pois 30,8% dos casos foram encaminhados ao Conselho Tutelar e 25,6% às DEAMs. A violência praticada contra mulheres é de repetição ou crônica e atinge cerca de 40% das vítimas notificadas com prevalência da violência sexual( Dados do Viva: vigilância de violências e acidentes, 2008 e 2009.Ministério da Saúde, Secretaria de vigilância em saúde, e departamento de análise de situação de saúde).

Precisamos continuar cobrando do poder público a implementação da Lei Maria da Penha, porque além de criminalizar a violência doméstica e familiar contra as mulheres, a lei prevê mecanismos para prevenir e enfrentar a violência, como juizados de violência doméstica e familiar contra as mulheres, medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência, além da integração das ações do poder judiciário e das defensorias públicas com as áreas de segurança pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação.

O número de homicídios contra as mulheres no Brasil entre 1998 e 2008 foi de 42 mil mulheres, ritmo que acompanhou o crescimento da população feminina. Cerca de 40% destas mortes ocorreram na residência da vítima.


Vivemos um momento político especial para alçarmos vôos mais altos e buscarmos a representação das mulheres nos espaços de decisão. Ainda estamos pouco presentes nos espaços formais de poder e decisão, estamos crescendo em participação nos movimentos sociais populares, associações de bairros, movimentos negros, trabalhadoras rurais, LGBT e outros, destacando-se a atuação dos movimentos de mulheres e feministas.

Precisamos incidir sobre as formas que mulheres e homens participam da vida social e política do país, e para tanto precisamos ousar em 2012 e aumentar as cadeiras de mulheres nas Prefeituras e nas câmaras de vereadoras(es) deste Brasil do Iapoque ao Chuí.

Trago alguns dados para instigar nossa ousadia e participação nas eleições 2012.

Segundo dados do TSE :

@ 22% de mulheres candidatas a vereadoras em 2008;
@ Em 2008: 6.511 vereadoras eleitas num total de 51.974 vereadores eleitos no país, perfazendo 13%;
@ Em 2010: 22% de mulheres foram candidatas a deputadas estaduais e distritais e 20% candidatas a deputadas federais;
@ Em 2010 foram eleitas 44 mulheres entre 513 representantes da Câmara Federal, isto é, 8,8%. Atualmente são 49 deputadas em exercício;
@ Mulheres eleitas deputadas estaduais e distritais em 2010: 13%;
@ Prefeitas eleitas em 2008: 505 prefeitas num total de 5.565 prefeituras, perfazendo 9,1%;
@ Senado: São dez senadoras em exercício, de um total de 81 cadeiras, perfazendo 12,3%;
@ Governadoras em 2010: 7,4%, isto é, apenas 2 num total de 27 Estados;
@ Ministras em 2011: 26%, ou seja, 10 ministras em 38 ministérios;

Podemos muito mais!
Queremos eleger a 1ª Prefeita de Porto Alegre!

Chegou a hora de Porto Alegre avançar, ousar e qualificar a vida das Mulheres!

A cidade de Porto Alegre é nacionalmente conhecida pelas iniciativas políticas que toma frente às inúmeras desigualdades sociais presentes na sociedade brasileira.

O movimento organizado de mulheres, fazendo parte desta história, conquistou o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher. O COMDIM foi criado devido à luta das feministas e dos movimentos de mulheres de Porto Alegre, instituído pela Lei complementar nº 347, de 30 de Maio de 1995. É um órgão de caráter permanente, fiscalizador, normativo e deliberativo, no que se refere às matérias pertinentes aos direitos das mulheres.

Porto Alegre merece e precisa com urgência da reestruturação do COMDIM.

Desde a gestão do Prefeito Fogaça, o movimento de mulheres de Porto Alegre pauta as promessas que nos foram feitas de um espaço físico adequado, com equipamentos e funcionária responsável pelo expediente. Até hoje só promessas, e na gestão Fortunati ficou ainda pior. Além da falta de politicas públicas para as Mulheres, O COMDIM está inoperante, e sem apoio do governo municipal.

Precisamos de um Projeto Político que lace e entrelace as políticas sociais, tendo como horizonte, transformarmos Porto Alegre numa cidade em que as Mulheres tenham dignidade, cidadania, democracia , emancipação, segurança e avanços tecnológicos.

Porto Alegre precisa da força e ousadia de uma gaúcha que em dois mandatos como Deputada Federal, já mostrou que tem plenas condições e capacidade de ser a 1ª Prefeita eleita em Porto Alegre.

Manuela é uma mulher que está comprometida com um projeto de uma nova sociedade que prescinde de construção de alternativas desde a base, a partir do cotidiano, revelando uma intencionalidade que não seja apenas discursiva, mas sobretudo práticas que modifiquem concretamente a vida das Mulheres.

“Talvez a mais bela metáfora sobre a interdisciplinaridade seja a da tecitura dos tecidos; a elaboração, as tramas que compõem os panos, os tapetes, as colchas que nos envolvem, que nos protegem, que nos ornamentam, que constituem nossas vidas, foram urdidas em processos lentos, marcadas pelos compassos cotidianos, que são representações de nossas próprias vidas” (Cascino in Fazenda, 2002, p. 128).

No tecido, cada fio, isoladamente, possui uma força e uma resistência muito menor que a resultante de sua união aos demais fios. Dessa forma, o processo de constituição do tecido tornará cada fio forte, único, considerando cada um à sua própria medida, demandando sua especificidade/unicidade. O conjunto, portanto, possibilitará ir além, ampliando horizontes, constituindo-se num todo a partir da somatória complexa de inúmeras e singulares partes.

Acredito que juntas podemos TUDO! Fomos capazes de eleger a nossa Presidenta e agora podemos construir a grande possibilidade de nossa capital gaúcha ter uma Prefeita que com certeza colocará nossa cidade em sintonia com o Rio Grande, o Brasil através do II Plano Nacional de Politica para as Mulheres e das resoluções da III CNPM realizada em Dezembro de 2011.

Algumas bandeiras de lutas:

Criação da Secretaria Municipal de Políticas Públicas para as Mulheres,

Que a Prefeitura de Porto Alegre defina metas e alocação de recursos no Plano Plurianual, na Lei de Diretrizes Orçamentárias de no mínimo 10%, para implementação das Políticas Públicas para as Mulheres.

Que as/os servidoras/es públicas/os recebam formação e capacitação quanto às questões de gênero, raça/etnia, orientação sexual e direitos humanos.

Que a intersetorialidade entre as políticas seja encarada como uma prioridade, para que todas as mulheres e homens possam ter uma vida mais digna e um atendimento ágil e de qualidade em nossa cidade.

Que todas as mulheres cadeirantes, cegas ou portadoras de qualquer deficiência tenham acessibilidade para andar nas ruas, entrar em qualquer estabelecimento público ou privado, acesso aos meios de transportes e a qualquer outro espaço.

Implementação na íntegra da Lei Maria da Penha na cidade de Porto Alegre.

Criação de juizados especiais de violência doméstica e familiar, com todo o aparato necessário, para que as mulheres sejam atendidas com respeito e dignidade.

Formação e preparo das/os Conselheiras/os Tutelares nas óticas de gênero,raça/etnia e orientação sexual.

Que artigo 150 da Lei Orgânica Municipal, seja divulgado em todos as instituições públicas e privadas do município.

Efetivar a construção das casas abrigo.

Revitalizar, ampliar e qualificar o atendimento na Casa Viva Maria.

Urgente instalação do Centro de referência para Mulheres vítimas de violência de Porto Alegre, de acordo com a norma técnica de uniformização dos centros de referência, documento que esse que embasa estes serviços, e que consta do pacto firmado pelo Município de Porto Alegre.

Elaboração e efetivação de uma politica municipal de saúde da mulher baseada na integralidade e direitos sexuais e reprodutivos, que considere o ciclo de vida das mulheres(jovens, adultas e idosas).

Consolidar na politica educacional de Porto Alegre as perspectivas de gênero, raça/etnia, orientação sexual, geracional, das pessoas com deficiência e o respeito à diversidade em todas as suas formas desde a educação infantil em todos os níveis e modalidades de ensino, priorizando a formação inicial e continuada de gestoras(es) e profissionais da educação, implementando as resoluções da I CONAE.

Venha botar o bloco na rua!
“Porque Lugar de Mulher é na Política e em Todos os Lugares!

REFERÊNCIAS:

CONTI, Silvana B. A liga brasileira de lésbicas. Revista projeto olhares: ação para visibilidade lésbica em Porto Alegre, Nuances (grupo pela livre orientação sexual de Porto Alegre), jan. 2005, p. 12.

SWAIN, Tânia Navarro, MUNIZ, Diva do Couto G. Mulheres em ação: práticas discursivas, práticas políticas. Florianópolis: ed. Mulheres, 2005.

VENTURA, Miriam (org.). Direitos sexuais e direitos reprodutivos na perspectiva dos direitos humanos: síntese para gestores, legisladores e operadores do direito. Rio de Janeiro: Advocaci, 2003.

LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1997.

POCAHI, Fernando. Um mundo de injúrias e outras violações: reflexões sobre a violência heterosexista e homofóbica a partir da experiência do Centro de Referência em Direitos Humanos. Rompendo o silêncio. Nuances, 2007.

RIBEIRO, Matilde. O feminismo em novas rotas e visões. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, UFSC, p. 801-810, 2. semestre, 1999.

CASCINO, Fábio in: FAZENDA, Ivani C. A. (org.). Dicionário em construção: interdisciplinaridade. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2002.

Caderno de Resoluções do 8º Congresso Nacional da UBM. Junho/2011.

CONSELHO MUNICIPAL DOS DIREITOS DA MULHER. Cartilha políticas públicas para as mulheres. Porto Alegre, Coordenação Política e Governança Local, Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 2007.

CONTI, Silvana B. Educação e lesbianidades: educando para a diversidade. In: PASINI, Elisiane (org.). Educando para a diversidade. Porto Alegre: Nuances, 2007.

Textos de apoio da V Conferência Municipal de politicas para as Mulheres. Agosto/2011.

Texto de orientação para as Conferências Estaduais e do Distrito Federal, sobre a 3ª Conferência Nacional de politicas para as Mulheres. Dezembro/2011.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Somos Tantas

Somos Tantas
Estamos em todos os lugares
Mas poucas pessoas querem nos ver
Somos negras, brancas, mestiças
Somos altas, magras, roliças
Somos jovens, adultas, idosas
Somos mulheres comuns, famosas
Somos atéias, cristãs, religiosas
Somos trabalhadoras dólar, da rua
Somos filhas, mães, avós da lua
Somos tristes, alegres, sonhadoras
Somos lésbicas batalhadoras
Existimos!
Estamos no mundo!
Vê quem quer enxergar!
Escuta quem quer ouvir!

Escrevi este poema em 2003, durante o V SENALE(Seminário Nacional de Lésbicas em São Paulo)

A Educação Saindo do Armário - Fios e Tramas do Arco-Iris

A Educação Saindo do Armário
Fios e Tramas do Arco-Iris

...“Alguém é homo, lés, bi, trans, travesti ou heterossexual à revelia de qualquer pré determinação? Mas podemos dizer que somos bichas, sapas, travas e/ou porque ao sermos interpeladas no lugar de abjeto (ignóeis, bizarras, queer, desprezieis, inumanas) nos vimos diante de uma possibilidade: sermos assujeitadas e/ou de ressignificarmos nossas vidas.”

1. A Educação como Ferramenta de Emancipação

Acredito que a educação é uma das ferramentas de transformação desta sociedade que exige um padrão de “normalidade” que acaba privilegiando quem é homem... branco... heterossexual... quem tem dinheiro... quem tem um padrão estético de beleza exigido pelas passarelas da moda vigente.
Para a construção do sujeito político, conhecer e agir são dimensões inseparáveis. A produção do conhecimento é também uma esfera da dominação masculina, dominação simbólica, diretamente voltada para reprodução da dominação e da exploração material, patriarcal e capitalista.

2. A Educação como aparato ideológico do Estado
Precisamos definir qual é o nosso papel enquanto educadoras(es) comprometidas(os) com a transformação desta sociedade burguesa, homofóbica, lesbofóbica, racista, machista, onde o valor do capital é o elemento considerado essencial. Esta preocupação também está explícita nas palavras de Paulo Freire, citado em Mello (2008, p. 44):
"Quando eu me pergunto, por exemplo, a favor de quem eu conheço, contra quem eu conheço, e, portanto, a favor de quem e contra quem eu trabalho em educação, eu estou, obviamente, no campo político. Eu preciso explicitar, são perguntas que eu não posso deixar entre parênteses, e elas todas têm que ver com meu sonho como educador(a). O meu sonho não é só pedagógico, ele é substantivamente político e adjetivamente pedagógico. É impossível admitir que a educação seja um que fazer neutro ou tecnicamente neutro, precisamente porque a educação se apresenta à luz das perguntas radicadas na própria prática, e não nos livros"(...).

Se a escola reflete o modelo social no qual está inserida, isso significa que nela também estão presentes as práticas das desigualdades sociais, culturais e econômicas entre mulheres e homens, negros(as) e não negros(as), lésbicas, gueis, travestis, transexuais, e outros segmentos da sociedade.
A escola, como aparato ideológico conectada com o Estado, está profundamente comprometida com a reprodução das relações de dominação e exploração, consolidando assim não somente a marginalização da identidade da classe trabalhadora, mas também das “minorias” no currículo escolar. A escola é um importante agente de difusão de visões discriminatórias e práticas racistas. Todavia, a escola também pode vir a ser um espaço de resistência ao racismo, ao preconceito, espaço de contestação, de crítica, de debate, de socialização de visões progressistas, humanistas, abertas às diferenças, mas intolerante para com a desigualdade de oportunidades e qualquer tipo de violência e opressão. Nessa perspectiva acredito que a Escola deve tratar das relações de gênero, raça/etnia, orientação sexual em todos os níveis e modalidades de ensino, desde a Educação Infantil.



3. A Educação Saindo do Armário
Fios e Tramas do Arco-Iris
Uma das alternativas possíveis para modificarmos este cenário opressor, discriminatório e preconceituoso da sociedade, é investirmos em uma educação de qualidade, que se comprometa com o acesso e a permanência das(os) estudantes, respeitando suas histórias, suas culturas, suas especificidades, na busca de ser uma ferramenta importante para termos uma sociedade mais solidária, mais justa em que todos os sujeitos tenham a possibilidade de exercer sua cidadania.
A visão individualista e competitiva dominante da sociedade capitalista tende a fazer as pessoas se sentirem responsáveis pela própria situação e a produzirem um grande sentimento de solidão.
A sociedade brasileira precisa conhecer e respeitar as pessoas que estão atrás das “letrinhas” do arco-íris, pois estas, como quaisquer outras, necessitam de políticas públicas a fim de poderem ter uma vida digna com educação, saúde, justiça e segurança pública, cultura, trabalho e geração de renda, turismo, comunicação, esportes, igualdade racial, assistência social, habitação, dentre outras.
Além de militantes do movimento pela livre orientação e expressão sexual, fazemos a luta de idéias, somos formadoras(es) de opinião e temos a responsabilidade de estudar, produzir teorias, fazer a disputa prática e teórica de conceitos que devem ser aprofundados e modificados conforme a necessidade do momento histórico em que vivemos.
Queremos um Brasil forte, soberano, democrático, com um novo projeto nacional de desenvolvimento e justiça social. Que consolide um Sistema Nacional de Educação, com prioridade para a educação pública e gratuita, garantindo sua qualidade e seu caráter científico, crítico e laico.
Acredito que chegará o dia em que todas as pessoas serão livres, terão trabalho, terão casa, terão comida, terão acesso à educação, à saúde, à cultura e a tudo mais que desejarem. Pessoas que terão direito de viver, amar, sonhar. Pessoas que terão direito de sorrir e ser feliz. Nesta sociedade não teremos classes sociais, não teremos racismo, mulheres e homens terão os mesmos direitos e oportunidades e todas as pessoas poderão apenas “SER”: sem letrinhas, sem caixinhas, sem rótulos. Apenas ser. Nestes novos tempos, os fios e as tramas do arco-íris serão muito mais coloridos, já que o sol vai brilhar para todas as pessoas.
Temos que avançar “para além'' da solidariedade. As questões da livre orientação e expressão sexual precisam deixar de ser um debate só nosso, e se tornarem uma bandeira de toda a sociedade brasileira.

REFERÊNCIAS:

CONTI, Silvana B. Fios e Tramas do Arco-Íris. Revista Princípios, Nº 96, Julho/2008

CONTI, Silvana B. Educação e lesbianidades: educando para a diversidade. In: PASINI, Elisiane (org.). Educando para a diversidade. Porto Alegre: Nuances, 2007.

POCAHI, Fernando. Um mundo de injurias e outras violações: reflexões sobre a violência heterossexista e homofóbica a partir da experiência do Centro de Referência em Direitos Humanos. Rompendo o silêncio. Nuances, 2007.

LOURO, Guacira. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1997.

MELLO, Marco. Paulo Freire e a educação popular: reafirmando o compromisso com a emancipação das classes populares. Porto Alegre: IPPOA; ATEMPA, 2008.

PARO, Henrique Vitor. A Teoria do valor em Marx e a educação. São Paulo. 2006

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Entre o Mar e os Abadás

Entre o Mar e os Abadás1

Da Restinga a Salvador

Quarta -Feira de Cinzas

Nesta quarta-feira de cinzas de 2012, felicito o POVO e a ESTADO MAIOR DA RESTINGA, a BI CAMPEÃ do Carnaval de Porto Alegre.
Durante o ano letivo, passo a maior parte dos dias na Restinga, na Vila Castelo, estou diretora da Escola Municipal Mário Quintana. Tenho muito orgulho de ser parceira desta comunidade que luta diariamente para sobreviver. Quem mora na Ocupação Mário Quintana é guerreiro(a). Viver sem banheiro, rodeados(as) de lixo e acompanhados(as) por ratazanas, é uma dura realidade.
Inicio escrevendo sobre nossa realidade local, que tem muitas coisas semelhantes com a vida dos(as) soteropolitanos(as) que conheci em Salvador nos dias que passei lá.
Nossa Restinga é eminentemente NEGRA, forte, cheia de Axé, cultura, resistência, personalidades que fizeram e fazem a história de Porto Alegre, do RS e do Brasil, batalhadores(as) incansáveis que a cada dia buscam um futuro melhor para suas famílias e a comunidade em geral.
Andando pelas ruas de Salvador, me encanto com a beleza da paisagem e a presença NEGRA. As pessoas, a história, a cultura, as marcas da resistência de um povo que tem fibra, que não dobra a espinha, que levanta a cabeça, que solta o cabelo, que tem orgulho, que tem beleza, e nos ensina a cada momento o quanto precisamos jogar fora o nosso racismo.

Leitura de Férias

Durante a viagem escolhi um livro para me acompanhar e eis que me deparei com mais um do Eduardo Galeano: De pernas pro ar – A Escola do Mundo ao Avesso.
Comecei a compreender que minhas férias iriam “bombar”, e tudo que faço durante o ano, que é estar DE OLHO de como o povo está sendo tratado em Porto Alegre, a qualidade da Educação, saúde, a falta de segurança, os investimentos do Governo Municipal nos bairros centrais, esquecendo a falta de politicas públicas e infra-estrutura dos bairros das periferias, o racismo, o machismo, a lesbo/homo/transfobia, enfim, a inversão de prioridades e desmandos que sofremos cotidianamente, seriam pauta também das minhas férias.
Preciso compartilhar alguns trechos de Galeano, que considerei interessantes para ilustrar o que trago em minhas reflexões.

“Desde os tempos da conquista e da escravidão, aos índios e aos negros foram roubados os braços e as terras, a força de trabalho e a riqueza: e também a palavra e a memória. No Rio da Prata, quilombo significa bordel, caos, desordem, degradação, mas esta expressão Africana, no idioma banto, quer dizer campo de iniciação. No Brasil, quilombos foram espaços de liberdade fundados selva adentro pelos escravos fugitivos. Alguns desses santuários resistiram durante muito tempo”...

Considero a Restinga um grande quilombo, que foi inventado inicialmente a mais de 30 anos para higienizar a cidade, uma politica podre da época que resolveu jogar a população em sua maioria negra, num lugar bem distante, onde não tinha nada. E do nada, o povo se organizou, lutou, gritou, trabalhou e construiu um grande bairro.

“TINGA TEU POVO TE AMA”...

A greve dos policiais militares de Salvador

Por falar em “bombar”, justamente no momento da greve dos policiais militares da Bahia, eu estava lá. A força nacional garantiu a segurança dos(as) turistas nas praias e nos locais de referência para compras e passeios, como o Mercado Modelo e o Centro Histórico. Então, eu estava “protegida”, mas resolvi conversar com as trabalhadoras.
Mulheres Negras que vendem queijo coalho, roupas, alugam sombreiros e cadeiras, fazem acarajé, abará, arte em cabelos, pulseiras, vendem fitas do Senhor do Bomfim, lavam os pés dos(as) turistas e moram nas comunidades das periferias de Salvador.

Dona Fátima, trabalha num ponto onde se alugam sombreiros e cadeiras na praia do Farol da Barra: “ É moça, tão matando muita gente lá no morro. É para ajustar contas, limpar um pouco a área”...

Busquei alguns dados sobre as mortes neste periodo. Aconteceram 109 homicídios registrados nos 10 primeiros dias de greve. 100 mortes foram com arma de fogo, 06 mortes com faca, 02 linchamentos e uma carbonização. 98 mortos foram homens e 11 mulheres. 42 mortos com até 29 anos, 59 levaram tiros na cabeça.41 tiveram indícios de acerto de contas, 26 matadores em comboio e 12 homicios em chacinas. 99 mortes foi nos bairros de periferia e 10 nos bairros de classe média/alta.
Para finalizar este parágrafo mais um dado assustador, algumas vítimas tinham sinais de tortura, vários corpos foram encontrados em lugares ermos e algemados.

Logo depois que a greve acabou, conversei com Dona Maria, vendedora de acarajé, ela me afirmou: “ Eles agora vão bater mais nos nossos meninos, para descontar os dias parados .Lá no morro eles só entram pra isso, ninguém faz nossa segurança”.

As policias militares precisam se humanizar, pois tanto em Salvador, quanto na Restinga, alguns policiais sofrem de racismo crônico, e abordam sempre primeiro os(as) jovens negros(as), e já chegam batendo e muitas vezes matando.
Todos os setores da sociedade devem receber formação em seus cursos, para prestarem seus serviços para a população de maneira respeitosa, sem qualquer tipo de preconceito ou violência. E aqueles que cometem crimes, batem, matam e abusam de seu poder, devem ser punidos(as).

Enfim, o Carnaval

Acompanhei a transformação de Salvador nos preparativos para o Carnaval. Estava no bairro da Ondina, e todos os dias caminhava 8 quilômetros para chegar no Farol da Barra. Belo exercício e observações.
A cada dia o ferro e a madeira foi tomando conta das fachadas dos edifícios, hotéis, bancos, lojas, farmácias, praças, muros da beira da praia, enfim, tudo vira camarote. O público vira privado, e mais uma vez a mesma constatação: Homens negros da construção civil levantando palanques enormes, gigantescos, deslumbrantes, apoteóticos, que serão usados pelos patrocinadores e por pessoas que vão pagar muito para aparecer ao lado de artistas famosos(as) que por sua vez também convidam ricos(as) e famosos(as) para mostrar sua popularidade e poder.

Li um artigo do pesquisador Milton Moura, Pós-Doutor da UFBA, que comenta: “Não estudo mais o carnaval de hoje, mas me parece muito interessante. Nesse artigo, quando digo “geografia política do carnaval de Salvador”, me refiro ao fato de que algumas áreas são guardadas para as pessoas mais claras, mais estudadas, mais ricas e outras são permitidas às pessoas menos estudadas, mais escuras e mais pobres. Isso de modo geral. De vez em quando, acontecem rearrumações nesse quadro”.

Neste contexto, menos da metade dos(as) soteropolitanos(as) vão para as ruas, assistem o carnaval pela televisão, e como afirma Milton Moura: “Só que sempre, em qualquer situação, as camadas populares sabem aproveitar as ocasiões dessas festas para exercer politicamente o direito de brincar. Nada mais politico que lutar pelo direito de brincar”.
A luta de classes é nítida também no carnaval, estando em Salvador ou olhando na telinha, observa-se a branquitude dos camarotes e a autoridade dos cordeiros, delimitando quem está dentro e quem está fora.
Daniela Mercury, Chiclete com Banana, Saulo Fernandes, Carlinhos Brown e Tuca Fernandes resolveram baixar as cordas, graças a poderosos patrocínios.
Os abadás são o uniforme da folia, e são muito cobiçados, existem inclusive algumas instruções de segurança, para que não sejam roubados.
Que loucura!Como diz Galeano, está tudo de pernas para o ar, veja as instruções: Coloque seu abadá em uma sacola discreta, não converse em público sobre sua aquisição, prefira ir de carro e com um motorista conhecido, se for de ônibus tenha a sacola sempre junto a seu corpo e se perceber que está sendo seguido desembarque e procure o policial militar mais próximo e por fim, pegue o abadá e siga para casa, sem desviar o caminho.
Uma festa onde deveríamos curtir, brincar, namorar, cantar, pular, ser feliz...
Como?
Somos portadores(as) de um objeto valioso, restrito, exclusivo para quem pode pagar muito para vesti-lo.
Existe um abismo entre o Mar e os Abadás...
O mar é de todos(as), é do povo, é lindo, é majestoso, é público, acolhe todas as pessoas que quiserem se banhar na Bahia de todos(as) os(as) santos(as).
Os abadás excluem, demarcam as diferenças sociais, acolhem só alguns, privatizam uma festa popular onde a classe social e cor da pele não deveriam estar em destaque.
Quero voltar muitas à Salvador, e sonho com dias mais felizes:
Sem violências
Sem racismo
Sem opressão de classes sociais
Sem segregação
Sem mortes
Com alegria
Com igualdade de oportunidades
Com trabalho digno e remuneração justamente
Com moradias descentes para todos(as)
Com o povo ocupando as ruas todos os dias e no carnaval


Dedico este texto a ZANI, vendedora de queijo coalho. Uma mulher guerreira, negra, lésbica, que trabalha todos os dias nas praias de Salvador.
Vou escrever um texto sobre sua história.
Aguardem!!!